Por Rosely Carlos Augusto (2016), Appris
« Este livro é resultado de extensa pesquisa de campo e de longa experiência profissional da autora junto às populações rurais engajadas nas lutas sociais por terra e direitos, tendo como objeto apreender os saberes e aprendizagens produzidos na prática da participação popular e comunitária. Toma-se, assim, a prática social como dimensão formadora, complexa e inerente à vida, e os movimentos e organizações sociais como espaço e locus de formação humana, na prática. As narrativas camponesas nos apresentam uma visão do conhecimento que se assenta na localidade e no senso comum, além de ser orientada para a prática. Assim afirma-se que toda prática social produz e reproduz conhecimento e, ao fazê-lo, pressupõe uma ou várias epistemologias, questionando-se a legitimidade do pensamento moderno ocidental, como única fonte e forma de conhecimento válido e relevante. Reafirma-se que as práticas sociais de lutar e contestar e os saberes produzidos, aqui estudados, fundam também uma ordem epistemológica e uma ordem ética, porque portadores de uma dimensão ontológica das possibilidades ou potencialidades de humanização. No patrimônio de saberes e de valores camponeses há uma densa ordem ética que passa pelo conflito, como valor de superação pessoal e das contradições sociais, a democracia como valor nas relações grupais e de gênero; pela esperança; a indignação com a injustiça; o amor à terra e a paixão pela luta; pela relação cuidadosa com a natureza e as com as diferenças, mesmo quando eivadas de contradição. Trata-se de uma aprendizagem na prática e da produção de saberes que não buscam a verdade das coisas e da experiência, mas o sentido do que nos acontece e do que fazemos. É uma epistemologia mais interessada na vida do que na verdade, apontando para outras lógicas, que superem a lógica exclusiva e instrumental da ciência moderna. As histórias de vida e de luta dos camponeses, homens e mulheres, narradas neste trabalho, constituem um documento histórico extremamente valioso para se entender um país absolutamente complexo e contraditório, onde as relações pessoais, coletivas, organizativas e produtivas assumem um caráter radicalmente dialético e profundo. » (site do editor)